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Postado por: Carlos Henrique
Data: 20/09/2013Me chamou, eu atendo
Me chamou, eu atendo
O amigo jornalista Rondinelli Gonzalez criou uma baita polêmica no Facebook e me convocou a participar. Ele criticou os ataques ao vernáculo praticados pelo tal “Homem do tempo”, de cuja existência apenas agora tomei conhecimento, em decorrência da importância a ele conferida no debate. A verdade é que nossa profissão está total e absolutamente desmoralizada. Qualquer um pode obter registro profissional. E nem precisa comprovar que sabe ler, e muito menos escrever: basta assinar o nome e está de bom tamanho. A corrida só não é maior porque os salários pagos são absolutamente ridículos: qualquer vendedor de mariola ganha muito mais. O tal “Homem do Tempo” ofende, no entanto, apenas a Flor do Lácio, de Bilac, enquanto outros praticam atentados irresponsável e impunemente contra a dignidade das pessoas. E ainda são pagos para isso com dinheiro público.Minha amiga Lúcia Barros sugeriu que eu comentasse mais demoradamente o assunto no blog e não me furto a fazê-lo, embora consciente de que talvez acabe desagradando a alguns. Advirto porém não ser esta a intenção. Mas o certo é que mesmo escrevendo de forma sofrível, o “Homem do Tempo” tem obtido algum sucesso naquilo a que se propõe justamente por ocupar um espaço literalmente abandonado pela própria imprensa: o cotidiano, o público, a vida das pessoas comuns que integram a comunidade, praticamente alheias ao que acontece nesse nosso quase outro universo, centro de absolutamente todas as atenções da mídia. E a razão é bastante simples: aquela área imensa não remunera a mídia. Por isso somente é focalizada nos desastres, nos crimes, nas tragédias e nas estatísticas. Mais pelo que de incômodo possam causar a esse nosso outro mundo.Exemplos disso estão diariamente estampados em todos os veículos. Situações que afetam significativamente a vida de milhares de famílias da periferia apenas passam a existir para a mídia quando perturbam o centro. É como o chamado lumpem proletariado urbano. Uma multidão que habita o mesmo espaço sem que delas se tenha conhecimento senão pelas esporádicas intervenções dos órgãos públicos registradas pelos releases produzidos pelas assessorias de imprensa. São menores abandonados, filhos de pais em igual situação, que literalmente não existem oficialmente por não possuirem qualquer documentação ou registro. São noiados, flanelinhas, lavadores de carros, catadores, enfim, um monte de gente que somente passam a existir a partir do momento em que lhe incomodam. Ou riscam seu carro. Ou assaltam você. Ou pedem algum dinheiro. Ou tudo isso junto.Outro exemplo: quando desabou a BR-364 e o trânsito foi desviado pelos bairros Ulysses Guimarães, Marcos Freire, JK e Tancredo Neves, o assunto ocupou espaço permanente na imprensa. A capital ficou então sabendo dos problemas causados pelo tráfego pesado desviado para a precariedade da malha urbana daquela região. Reparada rodovia e corrigidos os problemas gerados naqueles bairros, não mais se ouviu falar deles, embora permaneça a precariedade original. Só quem aparece por lá é o “Homem do Tempo”, a serviço do programa de tevê de um deputado estadual. Ele sabe que dinheiro a região não rende, mas seu negócio é cabalar votos. E parece estar indo bem. Segue a linha pela qual já se elegeram por aqui muitos outros profissionais da imprensa razoáveis, que infelizmente se mostraram péssimos políticos.O certo é que o “Homem do Tempo” vai comendo pelas bordas e demarcando um território abandonado com seu Português precário que, vale lembrar, não é exclusividade sua. Os profissionais melhor preparados buscam sobrevivência nesse mercado pífio com a ocupação de espaço nas assessorias, onde vão produzir noticiário unilateral em releases que hoje ocupam totalmente a mídia. Não estão, claro, a serviço do leitor ou do jornalismo. Fazem exclusivamente a propaganda daqueles mais interessados na manutenção de seu nicho de poder econômico e político. Os demais, salvo as exceções de praxe, fazem aquilo a que já nos acostumamos.Convém ilustrar o que digo com o comentário postado hoje pela minha amiga Marlene Matos, assessora de imprensa da Prefeitura de Candeias do Jamari: “É, Carlos Henrique, infelizmente estou vivenciando isso com uma nota que saiu ontem no site News Rondônia, acrescentando o município de Candeias do Jamari na operação Miquéias da PF. Mal informados, eles não sabem que Candeias do Jamari é regido pelo Regime Geral de Previdência Social/INSS. Não é regime próprio. Analisando os outros sites, percebemos que somente neste estava incluso o município de Candeias do Jamari, parece que foi intencional, causando certo tumulto, haja vista a chegada de vários meios de comunicação na manhã de ontem na Prefeitura de Candeias, querendo saber se o prefeito estava preso. O site não sabe o dano que causou”.

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