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Postado por: Carlos Henrique
Data: 28/01/2013Os banzeiros e a bazófia - parte II
Os banzeiros e a bazófia - Parte II
Os desastres causados pelas águas e a conversa “engana besta” das usinasCaro Cazenrique, você fez uma salada tão grande no seu texto, que fica difícil responder as afirmações. Misturou Santo Antônio com Jirau, Jacy-Paraná com Mutum-Paraná, com Nova Mutum... Muro de concreto no barranco de areia? Alagação em Porto Velho? Tem alguma coisa a mais aí, companheiro.O texto aí de cima eu o recebi exatamente assim, com todas as dúvidas e insinuações claramente destinadas a demonstrar pelo blogueiro uma ligeira dose do desprezo que parece ser a mesma da norma de conduta das empreiteiras responsáveis pela construção das usinas de Santo Antônio e Jirau em relação à população de Porto Velho e ao meio ambiente.Meu amigo Zé Carlos Sá, assessor de imprensa do poderoso Consórcio Santo Antônio Energia, advertiu em seu breve comentário que não é essa a minha seara, que talvez eu devesse continuar tratando de fofocas políticas ao invés de me meter numa área que desconheço. Não sei, de fato, coisa alguma sobre engenharia. Mas sempre se pode ouvir a opinião de engenheiros, como no caso do enrocamento de pedra lançada aplicado pela empresa, por determinação da Justiça, nas áreas mais afetadas pelo desbarrancamento das encostas.ESTÁ comprovado que o simples enrocamento suaviza, mas não soluciona o problema. Além de limitado às áreas mais atingidas, ele não vai impedir a continuidade dos banzeiros, inevitável com a elevação perene do nível do rio em função da barragem. O problema não foi identificado nos estudos ambientais realizados. Ou foi, mas acabou escamoteado, já que a solução praticamente inviabilizaria o projeto pelos elevados custos das medidas mitigadoras.Como disse, não sou especialista no assunto. Somente comecei esta série de matérias atendendo a um desafio dos técnicos ligados ao Indam, interessados em promover uma discussão mais clara sobre a questão. É claro que os técnicos da empreiteira conhecem a tecnologia existente para o enfrentamento do problema, mas isso não interessa à empresa, que prefere culpar o rio pelo desastre e isentar de responsabilidade as barragens.PARA AJUDAR meu amigo Zé Carlos a entender a “salada” que produzi no comentário anterior, vou tentar aqui apresentar cada um dos ingredientes da receita. Santo Antônio e Jirau constroem barragens para represamento das águas do mesmo rio, o Madeira. Cada uma se esmera em demonstrar que está realizando um maravilhoso trabalho de compensação ambiental, quando tudo o que foi gasto até o momento – e merece inclusive uma criteriosa avaliação - foi para mitigar os impactos sociais das obras.Mutum-Paraná e Nova Mutum estão realmente na área de influência direta do Consórcio Energia Sustentável, da UHE Jirau. Mas é fácil prever o que vai acontecer com Jacy-Paraná – que fica entre as duas e já está sofrendo com as inundações provocadas pela barragem de Santo Antônio – quando as águas atingirem a velha vila Mutum. Dá para entender, ou é preciso explicar melhor?OS REPRESENTANTES do empreendimento já demonstraram profundo conhecimento de hidrologia, nas vezes em que foram instados a explicar os problemas. Mas sempre ficaram devendo respostas a uma simples questão: isso é passageiro ou vai ser constante? Para uma velha moradora da região, Dona Rosicléia de Alencar, não passa de conversa fiada essa história de que o rio sempre foi assim: "Vivo aqui há mais de 40 anos e nunca vi coisa igual" - diz ela.Mas você esta correto, caro Zé, quando diz que “tem alguma coisa a mais aí, companheiro”. Tem sim. E muito, mas não se preocupe que vamos apresentar cada uma delas nos próximos dias. Nada a ver com o seu blog Banzeiros, que continua ótimo.
UM CONTO SUBSTANTIVOMERECE atenção, leitura, aplausos e méritos o trabalho de uma aluna do curso de Letras, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco - Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.
Redação:
"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador para, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e para justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros:ela totalmente voz passiva, ele voz ativa.Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta. Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício.O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.
Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva".

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