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Postado por: Carlos Henrique
Data: 12/04/2013Os banzeiros - parte VI
Os banzeiros e a bazófia – parte VI
REALIDADE ESCANCARA PROBLEMA,
MAS SANTO ANTÔNIO AINDA NEGANão se pode desconsiderar, ainda que absurda, a hipótese de ignorância em lugar de criminosa má-fé da parte do senhor Eduardo Melo Pinto, presidente do consórcio Santo Antônio Energia. Em mais uma tentativa de desqualificar a manifestação dos técnicos do INDAM, que apontam para a responsabilidade da empresa nas catastróficas ocorrências registradas às margens do rio Madeira, literalmente tomadas pelas águas, ele insiste em culpar “causas naturais” pelo problema.No mesmo diapasão o geólogo Amílcar Adame, talvez igualmente ignorante ou claramente a serviço da usina, declarou em rede nacional que “O solo, em decorrência da infiltração de água da época chuvosa, fica saturado em água e com isso se torna pesado. Em função desse peso, ele começa a se tornar instável“. Perdeu excelente oportunidade de calar-se e evitar a exposição nacional ao ridículo. Difícil imaginar que uma empresa detentora de tamanho poderio financeiro não tenha em seus quadros pessoas capacitadas para apontar a realidade: Porto Velho e região estão sofrendo os efeitos do desequilíbrio hidrossedimentológico do rio causado sim, senhores, pelas barragens.Já publiquei aqui e insisto: barragem de Santo Antônio funciona como verdadeiro filtro de decantação. Ela retém os sedimentos carregados até ali e liberam água limpa, com grande poder de incorporação de novos sedimentos que conduzem rio abaixo. Esta é a verdadeira razão pela qual absolutamente todas as comunidades ribeirinhas até depois de Humaitá estão e continuarão sendo atingidas pela catástrofe que nada tem de natural. A comprovação da filtragem é simples: basta colher uma amostra da água que sai da barragem e compará-la a outra, recolhida antes de Jirau.A pergunta é simples: que tipo de água tem maior poder de retirar sedimentos do solo? Aquela barrenta, quase leitosa ou a outra, mais limpa? O raciocínio, ainda que exageradamente simplista, pode estimular o Judiciário, Prefeitura e Governo do estado a contratar especialista no setor, como forma de subsidiar as ações de reparação de danos, que já começaram a pipocar. O certo é que não adianta esperar alguma ação do governo federal: a experiência das catástrofes anuais do Rio de Janeiro mais que desaconselha.Memória – Comentário de meu amigo Alcebíades Flávio registra que “sem querer ser catastrófico, dá para imaginar que em um futuro próximo, do tipo 4 meses, os operadores das hidroelétricas terão que manter o Rio Madeira represado para manter o fio de água com pressão. Em consequência disto, o rio deixará de ser navegável por período de 3 a 4 meses. Na época da construção da Usina de Samuel já existia essa tecnologia, o barrageiro João Dorival, pai da Zenia Cernov, e do João Nicolau da SAGA, já falava dos estudos para a construção da Usina de Santo Antônio, mas temia o assoreamento do Rio Madeira e a possibilidade dele deixar de ser um rio navegável no verão amazônico devido ao possível represamento.Monitoramento HidrossedimentológicoO Google registra uma série de empresas especializadas no assunto. Selecionei aleatoriamente uma delas que anuncia um programa destinado a fornecer informações referentes ao aporte e deposição sedimentar e espacializar os principais pontos de deposição, viabilizando a elaboração de projetos que venham a prolongar a vida útil dos reservatórios, entre eles:1 - Analisar as principais fontes de produção de material sedimentar para a área de influência e levantamento das condições de erosão da bacia (áreas-fonte naturais e antrópicas);2- Quantificar o volume de sedimentos aportado nos reservatórios;3 - Classificar a granulometria do material como forma de determinar as consequências na área de influência;4 - Desenvolver uma análise comparativa da dinâmica sedimentar a montante e no interior dos lagos;5 - Monitorar os impactos ambientais causados pela retenção de sedimentos nos reservatórios.Simples assim. Mas é preciso que os dirigentes da Santo Antônio Energia deixem um pouco de lado a cara-de-pau e passem a assumir a parte que lhes cabe nessa história toda.
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